domingo, 28 de fevereiro de 2010

Subjetividade e contexto na produção artística

Assumindo grande importância para a vivência humana, a habitação é um ambiente que conecta cada indivíduo e suas respectivas gerações, em relação ao tempo (passado e futuro dos indivíduos e do grupo) e vários elementos do contexto sócio-ambiental onde está inserida, sendo considerada fonte da identidade espacial e temporal do indivíduo e da sociedade. Nesse sentido, este papel tem como base algumas discussões como as questões culturais, as temporalidades que ela envolve, entre outras.
A subjetividade está em tudo aquilo que observamos, absorvemos e devoramos com os olhos, de tal modo que, aquilo que foi captado agora pertence ao conjunto de imagens manipuladas enviadas para mente naquele exato momento; e cada mente tem a leitura destas, individualmente particular, peculiar e diferente, dependente sempre do grau de sensibilidade em relação a pessoa e o meio, por um contato direto ou indireto ali adquirido.
A complexidade do processo de constituição do sujeito observador que, via atividade criadora, parte da realidade e a transforma, transformando nesse movimento a si mesmo e ao modo como significa tanto a sua própria trajetória quanto o contexto do qual ativamente participa, limitando cada mente com seus conhecimentos específicos, e fazendo com que as imagens capturadas de seus olhos se relacionem primeiramente com o que se tem em conhecimento individual: não enxergamos aquilo que não conhecemos. É uma ocorrência experimental pessoal, num espaço e tempo específicos.
O critério dessa viagem “do exterior ao interior” é basicamente relacionado à abertura sensitiva para a vida presente naquele momento, limitando-se apenas ao espaço dentro desse ambiente exterior e de seus conhecimentos, mergulhados em nosso interior pessoal, desde o pensamento consciente até o mais misterioso e profundo do subconsciente.
Tudo aquilo que enxergamos é mutável, pois vemos as coisas de uma forma conceitual e particular, em base ao nosso conhecimento especifico de cada um e de cada coisa conhecida. Como um exemplo, os vestígios são formas realistas de uma prova concreta de que algo ali aconteceu; são traços de uma marca deixada propositalmente visível, ou simplesmente abandonada por procedentes sem intenção, e invisíveis. Todos nós passamos pelos locais recolhendo e depositando um pouco de nós: poeira, pêlos, fibras, digitais, e outras marcas de todo tipo de elementos. A maioria das coisas passa completamente despercebida. Mas essas marcas reais são registros imutáveis de suas matrizes originais; aquele vestígio que ali foi deixado, impresso, tem apenas uma forma verdadeira e incapaz de ter duas: é como uma digital, uma identidade, e é praticamente impossível eliminar todas suas evidências.
O vestígio é totalmente fiel à sua matriz, fazendo de seu “signo” uma prova verdadeira e única, e cientificamente dizendo, insubstituível e intransferível. Mas quando se trata da formação de seu “significado”, a subjetividade e intuição pessoal do observador é a influência direta, se não a mais importante. É com base nesses conceitos individualistas pré-formados, de um conhecimento já ditado num meio social antigo, que surgem os significados. A subjetividade então se encontra presente, mais que as certezas da ciência. É aqui que entramos numa viagem ao interior, onde estão submersas as mais incomuns idéias, abstratas de certa forma. E são estes os quais interessam aqui.

“Os vestígios captados e registrados tem apenas um signo, mas a leitura de cada par de olhos do observador é peculiar e distinto, de acordo com a carga de conhecimentos de cada um deles respectivamente, dentro de um contexto social, cultural formado e pessoalmente subjetivo, para formar então um significado.”


Renata Richter

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